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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Migalhas

Se fosse um pássaro ela voaria feliz e cantarolaria algo do tipo:  - Because I’m happy  -

A leveza dela  o instigava.  A forma como encarava a vida, os sonhos e os problemas . Sobretudo quando a ouviu declarar:

“ Estar  satisfeito é não se contentar com elas, que servem ao chão, que caem sem perceber que não farão falta, elas que são resto, que são sobra, que não são oferecidas  a quem se quer muito, a quem se quer bem.
Migalhas de emoção , do mito de carinho, da lenda da atenção “

Nessas horas ele,  curioso e inteligente e sagaz e indagador, se perguntava retoricamente achando que não encontraria resposta digna à altura de satisfação:

“ Com o que ela tanto se  satisfaz? “

Ela, como se ouvisse e  tivesse o peito estufado de certeza e convicção, responde em alto e bom som:

Com meu Deus e Senhor. Com a missão. Com a vida!
Com o sol. Com o mar. Com pisar na areia descalça!
Com o céu. Com o vento que bagunça meus cabelos  quando a velocidade é maior que 100km/h!
Com as risadas que dou e que entrego a quem quer rir também.
Com os meus.
Meus de sangue, meus de escolha, meus da alma.
Meus roteiros, meus destinos, meus escritos, meus ouvidos.
Meus desesperos, meus choros, meus medos.
Meus mistérios, meus rodeios, meus esforços, meus almejos.
Meus manjares, meus néctares, meus cheers “

Vagamente um pensamento ligeiro, feito um vagalume assustado, paira sobre o pensar dele:

“ Verdade... Pra quem  tem muita fome, migalhas podem solucionar “

Pensamento apagado pela simples frase dita por ela:



“ Nessas horas agradeço por estar saciada “



domingo, 13 de julho de 2014

Não o tempo todo, mas muito


Enquanto amarro o all star penso como irei começar essa conversa
Me perfumo e listo mil itens, dos mais exuberantes aos emergenciais
É porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu não consigo pensar em mais nada

Da economia mundial ao preço do barril de petróleo.
Das guerras que os homens fazem por não conhecerem a embriaguez dos teus olhos às viagens que já me arrisquei
O que eu só quero é ter assunto
Tudo isso porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você qualquer lugar do mundo serve pra mim

Das experiências do exército, de como sou capaz de matar bichanos indesejados ou ser forte e corajoso
É porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você mais me pareço com um menino

Invento piadas, arranco gargalhadas, entro no seu jogo, finjo ser o mais fraco
Exatamente porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu poderia gastar o resto dos meus dias te fazendo sorrir


Dos seus olhares e juízo, da sua meninice propositalmente amadurecida, do seu dengo refogado de postura
Mas só porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu fico muito mais intrigado do que fico intrigado quando assisto aquela série que me amarro

Do esforço que terei pra gravar que dia é hoje, qual sua cor favorita, o motivo que te faz gostar tanto daquela canção, que roupa você usava quando nos vimos pela primeira vez.
É só porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu fico querendo te ver em todas as minhas memórias

Simplesmente porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu penso em você o tempo todo. Não é o tempo todo, mas muito.







quarta-feira, 2 de julho de 2014

5a Feira

Ela achou que jamais reconheceria o amor. Também pensou que, se chegasse, ele chegaria pomposo, num cavalo branco e numa noite de cristal. Mas estava apaixonantemente enganada.

O amor chegou no cotidiano, numa tarde de 5ª feira, num trânsito cosmopolita e consequentemente caótico, o dia da semana onde estamos tão cansados quanto 6ª mas ainda não podemos descansar, simplesmente porque ainda não é 6ª.

Na 5ª feira ela sabia que era ele porque, apesar do cansaço, se encontrou sorrindo, exageradamente, sozinha sem saber ao certo os porquês. Passou a achar sentido em frases como essa, tão cafonas e clichês.

Era o amor porque ele não deixava espaço para que fosse outra coisa. E ela, misteriosamente, sabia que podia esperar que fosse amor.

Finalmente era ele porque aquecia o coração. E porque não era um encontro solitário mas de dois.

Na 5ª feira ele chegou e foi ficando até que todos os outros dias do calendário da vida ficassem coloridos ao invés de gris. Ela descobriu que o amor vinha com uma caixa de lápis de cor.

O amor dela deixava ela sem folêgo. O amor dela fazia a gravidade perder seu poder legislatório e mesmo em 180º era  montanha russa lá dentro da alma.

Era amor porque ele, como nunca antes quis com outras elas, queria cuidar dela.  Como se fosse uma fórmula, ele queria decorar ela. Ele a desejava. Ela e todas as nuances que ela conjugava. Com toda loucura e sorte de brios e defeitos. Ele sabia que era ela o alvo do seu amor. Simplesmente porque era ela. Talvez ele não soubesse dizer porque aquilo o magnetizava tanto. Era ela a mais bela e ele o mais feliz por poder ter ela.

Nessa tarde de 5ª feira o amor os unilateralizou. Eles que em caminhos paralelos estavam mas agora não mais. Agora era caminho sobreposto. Agora era um. Agora era amor.

Na 5ª feira o amor chegou e eles, como se fosse 6ª, descansaram. Sorriram como se não merecessem experimentar o descanso dos finais de semana e agradeceram porque estavam apaixonadamente enganados.




quarta-feira, 21 de maio de 2014

O preço do Fortuito de valor


Ela era tão linda. Mas era só isso.
Ele era tão rico.  Mas era só isso.
Ela achava que a beleza que ela tinha era a moeda  que compraria todas as coisas que o coração dela pedia.
Ele pensava que as moedas que ele tinha fariam que ela gostasse do que ele era.
Numa dessas viagens da vida, se esbarraram.
Ele, por negócios.
Ela, por lobby mesmo.

Na última noite dela no Resort ( a amiga, que a acompanhara até então, passava mal no quarto e ela resolveu descer para assistir ao show de uma banda local no pubzinho do requintado hotel ) ele resolveu conferir que diabos  teria de tão bom num show de uma banda local no pubzinho do requintado hotel .
Ele precisou de uns drinks de coragem para, finalmente então, perguntar o nome daquela que ele ( e os demais também )  achava a mais bonita entre todas as outras.
Ela, que esbanjava simetria, precisou apenas retocar o batom.
Ele, enquanto perguntava seu nome,  ofereceu a bebida mais cara à moça mais bela.          
Ela, enquanto sorria, respondeu  e aceitou .

Nessa altura é razoável pensar que ambos pensavam que o drink  fazia o mesmo papel de um dote. Mais velado e mais barato, mas um dote.

Ele não sabia como agradá-la...  Até porque  não conseguiu comprar o manual pra fazer isso. E olha que procurou até  em lojas da 5th Avenue.
Ela não sabia como encantá-lo... Até porque os artigos que ganhava, todos comprados na 5th Avenue,  não diziam isso em suas  instruções da embalagem.

E viveram assim. 50 anos juntos. Contudo, infelizes.
Infelizes porque nunca descobriram que o valor que ela tinha não era o dinheiro dele que poderia comprar.

Infelizes porque nunca descobriram que aquilo que ele realmente era ficava ofuscado pela  beleza que ela possuía.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

grAMAtica, etc e tal

Exclame quando eu te interrogo
Objeto diretamente ligado à fluência nativa do meu ser
Só sei falar você

Suplico, em oração subordinada ao desejo, te ter ao meu lado
Bem perto e conjugado

Sujeito agora predicado
Para findar a singularidade das manhãs
Não há sentido em pontuações vãs

Pronome alvo dos afetos que abrigo
Eu, tu, eles todos envolvidos

E no anseio do verbo que transita em tua boca
Me perco e me acho louca

Encontro preposições escritas entre verdades e ilusões
Disserto, rio e choro
Construo o gramática dos corações


OÁSIS

Me arranjo em teus cabelos desarranjados
E me enlaço em teus desejos embriagados
Sutil feito pouso do pássaro aplainado
É o pensamento que me envolve se ao teu lado

Aparta a solidão quando abraço
Se chega a morena e seu afago
Espelhado em teu rosto e então decifrados
Os devaneios por mim há muito sonhados

Feito sede que se mata
Feito sombra no Saara
É a bela que ultrapassa a miragem já formada

Feito pão que se divide
Feito areia que não se acaba
É você, morena minha, que ao sol ascende e basta.

Criado em 04 de Outubro de 2013


ESTRADA

Como se da estrada brotasse uma esquina
Fez com que todo caminho percorrido  fizesse sentido 
O tempo dos sinais que me pararam antes
Foi cronometradamente medido pra te ver agora
Das vezes que meu combustível acabou 
Dos abastecimentos que fiz na madrugada fria e solitária
Eu seguia na estrada certa do destino que esperava encontrar
E eu gostava da viagem, dos dias de sol, do vento em meu rosto
Poderia seguir sem te encontrar
Mas não seria suficientemente feliz ao acordar

s2

Criado em 08/06/2013