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domingo, 13 de julho de 2014

Não o tempo todo, mas muito


Enquanto amarro o all star penso como irei começar essa conversa
Me perfumo e listo mil itens, dos mais exuberantes aos emergenciais
É porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu não consigo pensar em mais nada

Da economia mundial ao preço do barril de petróleo.
Das guerras que os homens fazem por não conhecerem a embriaguez dos teus olhos às viagens que já me arrisquei
O que eu só quero é ter assunto
Tudo isso porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você qualquer lugar do mundo serve pra mim

Das experiências do exército, de como sou capaz de matar bichanos indesejados ou ser forte e corajoso
É porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você mais me pareço com um menino

Invento piadas, arranco gargalhadas, entro no seu jogo, finjo ser o mais fraco
Exatamente porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu poderia gastar o resto dos meus dias te fazendo sorrir


Dos seus olhares e juízo, da sua meninice propositalmente amadurecida, do seu dengo refogado de postura
Mas só porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu fico muito mais intrigado do que fico intrigado quando assisto aquela série que me amarro

Do esforço que terei pra gravar que dia é hoje, qual sua cor favorita, o motivo que te faz gostar tanto daquela canção, que roupa você usava quando nos vimos pela primeira vez.
É só porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu fico querendo te ver em todas as minhas memórias

Simplesmente porque eu não quero que você pense que quando eu olho pra você eu penso em você o tempo todo. Não é o tempo todo, mas muito.







quarta-feira, 2 de julho de 2014

5a Feira

Ela achou que jamais reconheceria o amor. Também pensou que, se chegasse, ele chegaria pomposo, num cavalo branco e numa noite de cristal. Mas estava apaixonantemente enganada.

O amor chegou no cotidiano, numa tarde de 5ª feira, num trânsito cosmopolita e consequentemente caótico, o dia da semana onde estamos tão cansados quanto 6ª mas ainda não podemos descansar, simplesmente porque ainda não é 6ª.

Na 5ª feira ela sabia que era ele porque, apesar do cansaço, se encontrou sorrindo, exageradamente, sozinha sem saber ao certo os porquês. Passou a achar sentido em frases como essa, tão cafonas e clichês.

Era o amor porque ele não deixava espaço para que fosse outra coisa. E ela, misteriosamente, sabia que podia esperar que fosse amor.

Finalmente era ele porque aquecia o coração. E porque não era um encontro solitário mas de dois.

Na 5ª feira ele chegou e foi ficando até que todos os outros dias do calendário da vida ficassem coloridos ao invés de gris. Ela descobriu que o amor vinha com uma caixa de lápis de cor.

O amor dela deixava ela sem folêgo. O amor dela fazia a gravidade perder seu poder legislatório e mesmo em 180º era  montanha russa lá dentro da alma.

Era amor porque ele, como nunca antes quis com outras elas, queria cuidar dela.  Como se fosse uma fórmula, ele queria decorar ela. Ele a desejava. Ela e todas as nuances que ela conjugava. Com toda loucura e sorte de brios e defeitos. Ele sabia que era ela o alvo do seu amor. Simplesmente porque era ela. Talvez ele não soubesse dizer porque aquilo o magnetizava tanto. Era ela a mais bela e ele o mais feliz por poder ter ela.

Nessa tarde de 5ª feira o amor os unilateralizou. Eles que em caminhos paralelos estavam mas agora não mais. Agora era caminho sobreposto. Agora era um. Agora era amor.

Na 5ª feira o amor chegou e eles, como se fosse 6ª, descansaram. Sorriram como se não merecessem experimentar o descanso dos finais de semana e agradeceram porque estavam apaixonadamente enganados.